A Verdadeira Vida em Deus

(revelação com r minúsculo, muitas vezes revelações no plural). Quando falo da minha humilde experiência como revelação, falo da revelação com um r minúsculo, sob o ponto de vista experiencial. Não falo de minha experiência como revelação sob um ponto de vista doutrinal, querendo de alguma forma competir com a Revelação. Tal como outras revelações particulares ou revelações proféticas, minha obra não acrescenta nada ao Depósito da Fé. Pelo contrário, o chamado de Deus a mim visa apontar para a plenitude da verdade do Depósito da Fé, para nele entrar mais plenamente e viver conforme sua verdade. A Constituição Dei Verbum do Concílio Vaticano II deixa claro que a Revelação Pública está completa e perfeita e que “não mais se há de esperar nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.” (Dei Verbum 4) Além disso, a Dei Verbum também deixa claro que o povo de Deus necessita constantemente aprofundar a apreciação desta verdade: “Esta tradição apostólica que se origina dos apóstolos progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que constituem parte da Tradição, quer mercê da contemplação e do estudo dos crentes, que as meditam no seu coração (Lc 2, 19.51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão no episcopado, receberam um seguro carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, caminha continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus.” (Dei Verbum 8). Sua Eminência o Cardeal Joseph Ratzinger disse muito explicitamente sobre a relação entre a profecia cristã e a Revelação, que a tese segundo a qual a profecia deveria acabar com o término da Revelação em Cristo abriga mal-entendidos. Sua posição foi expressa em uma entrevista sobre a profecia cristã e, em outra ocasião, em um comentário sobre a divulgação do Terceiro Segredo de Fátima. Permito-me citá-lo diretamente de sua entrevista: “A Revelação é, essencialmente, Deus que Se doa a nós, que constrói a história conosco e que nos reúne e recolhe todos juntos. É o acontecimento de um encontro que tem em si também uma dimensão comunicativa e uma estrutura cognitiva. Isso também comporta implicações quanto ao conhecimento da verdade da Revelação. Se é compreendida no sentido correto, isso significa que a Revelação alcançou o seu objetivo com Cristo, porque - segundo a bela expressão de São João da Cruz - quando Deus falou pessoalmente, não há nada mais a ser acrescentado. Não se pode dizer nada além do Logos. Ele está no meio de nós de modo completo e Deus não pode nos dar nem dizer algo maior do que Si mesmo. Mas justamente esta inteireza do dar-se de Deus - isto é, que Ele, o Logos, está presente na carne - significa também que devemos continuar a penetrar este Mistério. Isso se liga à estrutura da esperança. A vinda de Cristo é o início de um conhecimento cada vez mais profundo e de uma descoberta gradual daquilo que é dado no Logos. Deste modo, abriu-se um novo meio de introduzir o homem na verdade plena, como diz Jesus no Evangelho de João, onde fala da descida do Espírito Santo. Considero que a cristologia pneumática do discurso de despedida de Jesus seja muito importante para o nosso tema, dado que Cristo explica que sua vinda na carne não era senão o primeiro passo. A vinda efetiva se realiza, pois Cristo, não mais ligado a um lugar ou a um corpo limitado espacialmente, mas como Ressuscitado vem em Espírito a todos, fazendo com que também o entrar na verdade adquira profundidade cada vez maior. Para mim é claro que - exatamente quando essa cristologia penumatológica determina o tempo da Igreja, isto é, o tempo em que Cristo vem a nós em Espírito - o elemento profético, como elemento de esperança e de apelo, não possa naturalmente faltar ou deixar de acontecer.” (30 Dias, janeiro de 1999, pg. 67). Da mesma maneira, não reivindico de forma alguma um status ou uma autoridade semelhante à da Sagrada Escritura para os meus escritos. A Bíblia Sagrada é inspirada de um modo infalível. Eu humildemente acredito que o Senhor me tocou para caminhar com Ele, através de uma ação direta em minha alma, auxiliando-me quando sou chamada a escrever, mas isso não é inspiração no mesmo sentido que é a Escritura, e o resultado não é infalibilidade, mas isso também não significa que deva haver erros doutrinais em meus escritos; estou certa de que não há. 1177

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